2021 - Santo Antônio da Patrulha
Acompanhando o curso do Rio dos Sinos chega-se a Santo Antônio da Patrulha.
Conheci Santo Antônio da Patrulha quando a estrada principal rumo ao litoral ainda cortava a cidade. Era comum fazer uma breve parada para saborear os famosos Sonhos — bolinhos fritos recheados de geleia, hoje ponto turístico — e seguir viagem. Voltar agora e percorrer a “Rua Grande”, com suas casas luso-açorianas do início do século XIX cuidadosamente restauradas, é uma grata surpresa.
Além de rota litorânea, a região serviu de caminho para os tropeiros que tocavam o gado de Viamão, mais ao sul, até São Paulo. Muitos se estabeleciam nas margens do Rio dos Sinos, formavam família e, mais tarde, subiam a serra batizando Gramado e Canela — mas essa é outra história.
Quanto ao nome da cidade, é preciso recuar ao século XVIII. Santo Antônio da Patrulha é um dos quatro primeiros municípios do Rio Grande do Sul, colonizado sobretudo por açorianos. A Coroa Portuguesa, ansiosa por consolidar seus domínios frente à Espanha, ordenou a ocupação do extremo sul além-Tordesilhas. Para oficializar a “estrada do sertão”, enviou em 1734 o tropeiro Cristóvão Pereira de Abreu. Entre seus auxiliares estava o pardo-forro paulista Ignácio José de Mendonça, futuro sesmeiro da região.
Ignácio protagonizou um romance digno de folhetim com Margarida Exaltação da Cruz, filha de escrava e de um rico fazendeiro da Lagoa dos Barros. O pai, Manoel de Barros Pereira, opôs-se ao enlace, mas o casal acabou casando-se sob proteção do vigário de Viamão. Ignácio tinha 50 anos; Margarida, apenas 15. A pedido do bispo do Rio de Janeiro, os dois ergueram uma capela dedicada ao seu santo de devoção: Santo Antônio.
Com a abertura da estrada tropeira surgiu o “Registro”, posto de pedágio que cobrava impostos das tropas rumo a São Paulo. Daí derivaram os nomes Guarda, Registro da Serra, Guardas de Viamão, Patrulha e, em 1760, Santo Antônio da Guarda Velha de Viamão. Aos poucos, “Guarda” deu lugar ao sinônimo “Patrulha”, consolidando-se o nome atual.
A Fonte Imperial, vista no vídeo, remonta a 1826: durante pernoite em Santo Antônio, D. Pedro I bebeu água do antigo chafariz público e, preocupado com o abastecimento, autorizou a construção de um novo sistema. A obra foi concluída em 1847 e ainda hoje simboliza o cuidado imperial com a cidade.