28/05/2025

2022 - O fim do Desdêmona

Uma carcaça imponente e fantasmagórica repousa na costa do Atlântico Sul, atraindo como um ímã os que desejam encará-la de perto. O navio encalhado exibe cores vivas de ferrugem e algas, tornando-se um prato cheio para as lentes fotográficas em busca de cenas dramáticas.

O nome da embarcação é Desdêmona, palavra de origem grega que significa “aquela que tem má sorte”. Um nome carregado de presságios — o mesmo da trágica esposa de Otelo, assassinada por ciúmes na peça de Shakespeare.

E o destino da embarcação não fugiu ao seu nome. Na noite de 9 de julho de 1983, enfrentando problemas no motor em meio a uma tempestade, o Desdêmona raspou em um banco de areia não cartografado, nas proximidades do Cabo San Pablo. Sem alternativas, o capitão Germán Prillwitz decidiu encalhar o navio propositalmente na praia, para evitar um naufrágio em alto-mar.

A costa dos cabos é notória por suas armadilhas — lugares onde o imprevisível é regra. Quando a maré está baixa, é possível entrar no navio pelo rasgo aberto na popa, mas quem demora a sair pode se ver preso nas "garras" enferrujadas do Desdêmona assim que o mar começa a subir.

O acesso até lá exige fôlego de aventura: são cerca de 180 km de estrada desde Ushuaia, sendo 50 km em estrada de terra. O Cabo San Pablo, com sua paisagem desolada e impressionante, é por si só outro atrativo. O ideal é fazer o trajeto em dois dias, pernoitando na pequena e acolhedora cidade de Tolhuin. Um carro comum (2x0) dá conta da viagem — desde que o clima permita.

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