Em 2017 filmei o Viaduto Otávio Rocha, em Porto Alegre; tão rápido quanto capturei as imagens eles se perderam no tempo.

Dias atrás resolvi revisitá-las e logo associei o cenário à obra do famoso compositor e boêmio Lupicínio Rodrigues. Escolhi “Felicidade” para a trilha e, ao pesquisar sobre ela, descobri várias coincidências curiosas.

O primeiro Plano Diretor de Porto Alegre, promulgado em 1914, já previa o viaduto da futura avenida Borges de Medeiros, elo entre o Centro e a Zona Sul. Curiosamente, nesse mesmo ano nascia Lupicínio, na então vila da Ilhota (atual bairro Cidade Baixa), área sujeita a inundações provocadas pelo arroio Dilúvio, cujo curso só seria retificado mais tarde. Ali o compositor viveu até os 35 anos.

Para alcançar o Centro, Lupi provavelmente atravessou muitas vezes o “morrinho”, como se chamava o promontório que seria cortado pelas obras do futuro “Viaduto da Borges”. As obras do Viaduto Otávio Rocha — batizado em homenagem ao intendente da época — foram concluídas em 1932, mudando para sempre a paisagem urbana.

Coincidentemente, também em 1932, o “Rei da Dor de Cotovelo” — expressão que ele criou para o frequentador de bar que enterra os cotovelos na mesa, pede um uísque duplo e lamenta o amor perdido — compôs “Felicidade”, talvez seu maior sucesso. No vídeo, a canção é aqui interpretada por Renato Borghetti em apresentação ao vivo.

Terá o viaduto inspirado Lupicínio em alguma de suas melodias?

“A minha casa fica lá detrás do mundo
Onde eu vou em um segundo quando começo a cantar.”